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algumas universidades permaneceram em greve por quase 4 meses. Excessivo no
tempo e contraditório no discurso. Na Universidade Federal do Rio Grande - FURG
a decisão de entrar no movimento deu-se precocemente numa assembleia que
provavelmente não representava 10% da categoria. Apesar disso, os demais
professores, distribuídos em unidades acadêmicas autônomas acataram a decisão
dessa assembleia. Dias, semanas e meses passaram-se, e o sindicato que
representa (?) a maioria dos docentes mostrou-se, mais uma vez, inábil para
negociar, desde que, obviamente, se entenda negociação como um ato bilateral de
avançar e recuar para chegar a um acordo. No dia 29/08 a Faculdade de Medicina da FURG decidiu,
democraticamente, sair do movimento. Tomamos esta decisão por entender que havíamos
chegado ao limite, os prejuízos foram desde o comprometimento de estágios
curriculares até ao atendimento do hospital universitário, passando pela
difícil situação dos estudantes que alugam casas por temporada e que as terão
que devolve-las no início do verão. Enquanto isto, vergonhosamente, recebemos
nosso salário, embora muitos de nós nunca mais tenhamos ido a universidade
depois de deflagrada a greve. Somaram-se, além disso, algumas dúvidas sobre a direção
do movimento. Será que a proposta de uma carreira única (docentes de universidades
e ensino fundamental/secundário federal), defendida pelo ANDES, é realmente a
melhor alternativa? O que está por trás da resistência sistemática à mensuração
de produtividade? Quais os reais objetivos da oposição, sistemática, à
progressão da carreira através do mérito e da titulação? Algumas destas posições
defendidas, de forma radical, pelo nosso sindicato soam como um espúrio
compromisso com a mediocridade corporativa, em nada compatível com a essência
da vida acadêmica
Por certo, gostaríamos de ter saído da greve
acompanhados pelos demais docentes, o que seria muito provável caso fosse feito
um plebiscito eletrônico. Mas é claro, isto não é interessante para os
dirigentes grevistas, que preferem outras formas de “democracia”. Primeiro
porque alegando, equivocadamente, ser a assembleia o único espaço legítimo de
manifestação, omitem que a maioria dos docentes lá não comparecem devido a
pouca disponibilidade de tempo e paciência, para ouvir os repetidos, arcaicos,
e não raras vezes desfocados discursos, que misturam Síria, Paraguai e bancos
internacionais com a carreira docente. A segunda razão provável pela qual os
nossos dirigentes sindicais são tão refratários a consulta de opinião
eletrônica é que neste caso eles perderiam a arena onde costumam linchar as
opiniões contrárias, desprezando todo e qualquer pensamento que se oponha a
ideologia única por eles estabelecida. Isto precisa mudar.